top of page
Buscar

Não bastou o que nossa mãe nos ensinou…

  • Foto do escritor: Má Âmbar
    Má Âmbar
  • 28 de jun. de 2023
  • 3 min de leitura

Por Maura Âmbar

Revisão: Adriana Lamour


ree

Você, que é contra leis que protegem grupos de vulnerabilidade, pense comigo. Precisa ter lei ou bastaria o que nossa mãe nos ensinou?

Precisa ter lei para respeitarmos pessoas pretas? Precisa ter lei para te impedir de bater em mulher? Precisa ter lei que diz, especificamente, que não pode matar gays, lésbicas, trans ou travestis? Precisa ter lei para não discriminar nordestino? Precisa. Porque, infelizmente, não bastou o que nossa mãe nos ensinou…

Não bastou porque crescemos numa sociedade que aceita como natural que pessoas pretas e pardas continuem sendo tratadas como “menos”, graças a uma escravidão que perdura camuflada, fruto de uma abolição mal resolvida, num país que tem a maioria de sua população carcerária de pessoas pretas e acha isso normal, negando a oportunidade, ao mesmo tempo em que nega a discriminação racial. No mesmo país que mata pessoas pretas e pardas numa chacina e as chama de suspeitos ao invés de vítimas. Neste país que, quando tenta colocar cotas para reparar a escravidão, pessoas brancas privilegiadas reclamam que seus filhos, que estudaram em escola particular, perderam vagas para cotistas da periferia que estudaram em escola pública.

Não bastou o que nossa mãe nos ensinou quando nós ainda achamos, de forma limitada, que o Estado de São Paulo é o Brasil todo, acreditamos que “da Bahia para cima é tudo igual” e só valorizamos o norte e nordeste quando queremos tirar férias onde é verão o ano inteiro. Nossa mãe disse que somos todos iguais, mas nós continuamos nos enganando, achando que transgêneros escolheram uma vida errada, logo, é normal morrerem por morte violenta. Que “filho meu não é ‘viado’”, mas, quando for, eu o coloco para fora de casa “para não envergonhar a família”, jogando para debaixo do tapete toda a pluralidade do ser humano comprovada pela ciência, em nome uma construção social de gênero sempre reforçada pelo patriarcado. Não bastou minha mãe ser mulher e eu dizer que não sou machista, pois eu a respeito, quando entendemos que é comum meu vizinho maltratar sua esposa porque é próprio do homem ser mais bruto e ela tem que ser submissa (e ninguém deve “meter a colher”).

Nossa mãe até tentou, mas não adiantaria em uma sociedade que trata crime como costume, que não se indigna com a falta de humanidade, que se sente confortável em não evoluir e reparar seus erros.

O direito a ser mulher, travesti, pessoa preta, parda, nordestina, gay, lésbica, bissexual, transgênero, não-binário, baiano, indígena, periférico, mãe de santo e humano precisa ser respeitado. Este direito de ser exatamente quem nós somos em nada muda a vida hipócrita de quem finge não ter preconceito, nesta sociedade na qual ser branco é tido como o normal, ser hetero é tido como o correto, ser rico é tido como objetivo de vida (mesmo que passem fome ao meu lado), ser da cidade me faz melhor do que quem veio do campo, ser cristão equivale a ser ético. Entenda que, como fruto do meio, as “verdades” que aprendemos, cheias de preconceito institucionalizado, precisam ser desconstruídas de tal maneira que, qualquer um de nós sejamos tratados como humanos, cidadãos, equivalentes a pessoas como você, que mesmo se achando superior, continua demasiado humano.

Não adianta achar bonito falar que “tem amigo gay”, quando continuamos reforçando estereótipos de que gay não presta, seguimos sendo o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ e não lutamos para mudar essa realidade. Desçamos do alto da nossa mesquinhez e ignorância e façamos parte da sociedade do mundo real que é de todas as cores, raças e crenças, na qual “não basta não ser racista, mas é necessário ser antirracista”, afirmou Angela Davis. Entenda o próximo como igual a você, desafie-se a ser moralmente evoluído a ponto de querer justiça igual para você e para o outro.

Não há mais espaço para o machismo, a LGBTfobia, a xenofobia, discriminação racial ou para o preconceito contra religiões de matriz africana.

Acredite, sua mãe fez o melhor que pôde na sua educação, mas cabe a você ir além e mostrar que é possível construir uma sociedade melhor do que a que ela ou a que nossos avós viveram e toleraram tantas injustiças.

Sejamos facilitadores de um ambiente sem preconceito institucional, repleto de acolhimento mútuo, no qual será bem mais fácil construir um país mais justo e próspero, um país que se mostre um lugar seguro, que não maltrata seu próprio povo.


 
 
 

Comentários


Siga-nos nas redes sociais

  • Facebook
  • Instagram
  • White LinkedIn Icon

© 2022

bottom of page